Uma Questão de Perspectiva

Às vezes, não há nada como calçar as botas alheias para perceber situações alheias ao nosso relativamente confortável quotidiano. Reparai nos seguintes mapas. Como reagiríeis a um processo colonizador desta dimensão? Da minha parte, vos garanto, lançaria todos os rockets, pedras, paus e tiros de caçadeira que tivesse à mão, a despeito dos protestos de pacifistas, “moderados”, e restante matilha equidistante.

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Os abstencionistas, párias da democracia

 

As recentes eleições para o Parlamento Europeu revelaram-se um fenómeno curioso. Pela primeira vez que eu tivesse dado conta, o debate não se deu entre programas políticos concorrentes, mas entre abstencionistas e anti abstencionistas. Para que fique claro, não conto entre os primeiros. Caso votasse em Portugal, teria quase certamente votado CDU, como aliás tenho feito nos últimos anos. Mas também não me identifico com os segundos. Não confiro nenhum poder extramundano ao voto, tal como não reduzo a democracia a este singelo ato, muitas vezes mais insignificante do que nós queremos admitir.

Os abstencionistas serviram de bode expiatório para os resultados desfavoráveis à maioria dos partidos no último escrutínio eleitoral. A abstenção forneceu uma explicação confortável para os seus fracos resultados absolutos, além de constituir uma conveniente peneira para tapar a caducidade dos seus programas. O coro de “quem cala consente”, “abdicar do voto é abdicar da democracia”, etc., foi sufocante. A santa cruzada anti abstencionista e a falência intelectual dos seus cruzados quase me convenceram das virtudes da abstenção, num flagrante exercício de psicologia inversa.

Um dos maiores perigos (e erros) de análise política, nos dias que correm, decorre da despolitização da abstenção. Se pensais que 70% do eleitorado decidiu conscientemente não depositar qualquer confiança nas alternativas em disputa por pura e simples irresponsabilidade ou ignorância, estais muito enganados. Há casos assim? Certamente que os haverá. Mas, presentemente, a regra é que quem não vota ou vota em branco, fá-lo porque ou não se revê nos programas e discursos em contenda, ou, a verificar-se um divórcio ainda mais acentuado, não se revê no próprio regime político no qual o ato eleitoral se enquadra.

Poder-se-á argumentar que esta não é a melhor maneira de mudar as coisas e que é preferível usar o palco para difundir um programa construtivo de resposta à crise. É um argumento válido. Conquanto, não se pode deixar de verificar que existe um significado político detrás da recusa em participar no teatro.

Outro sinal preocupante dado por estas eleições foi a ascensão exponencial das formações de extrema-direita ao nível europeu, algumas das quais abertamente neofascistas. Estes programas saíram reforçados não porque os europeus sejam mais ou menos racistas e xenófobos do que antes. Estes partidos ganharam porque atiraram pedras ao charco, apresentaram-se como uma alternativa radical enquanto todos os outros partidos do sistema propunham diferentes variantes da mesma receita. A diabolização da extrema-direita e o agitar dos velhos fantasmas do século XX de nada servem enquanto a esquerda não for vista como uma alternativa credível. Apenas desbaratando a hegemonia ideológica neoliberal brandindo um programa de esquerda se poderá derrotar a extrema-direita. A derrota do liberalismo e a derrota da extrema-direita são duas faces de uma mesma moeda. Em vez de culpar quem se absteve pelo triunfo do neoliberalismo e do nacionalismo, a esquerda devia refletir sobre as razões da brecha entre as instituições políticas atuais e 70% da cidadania.

A julgar pelas reações dos partidos, não houve o mínimo de reflexão sobre o assunto. Mais uma vez, todos ganharam, do CDS ao MRPP. Se não ganharam, a culpa é dos irresponsáveis abstencionistas, esses párias ingratos do benemérito regime democrático-parlamentar.

Aplique-se toda a cosmética retórica do mundo, mas um facto claro como a água permanece: o “vencedor” destas eleições “ganhou” com uma fatia de 11% da totalidade do eleitorado. Se isto não deslegitima as instituições democrático-liberais europeias, não sei o que as deslegitimará.

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Intervenção Cívica

São décadas de ludíbrio. São resmas e resmas de programas e declarações de intenções. São decibéis de música épica, desde a Dina até aos Vangelis, a servir de cenário a ufanos discursos ponteados com mentira e hipocrisia. São milhares de litros de saliva gasta em feiras e mercados por esse país fora. São horas de tempo de antena gastas em apelos à “responsabilidade”, à “moderação”, ao “sacrifício pelo bem comum”. São multidões de flyers, de posters e de outdoors com translúcidos sorrisos e promessas de mudança.

Basta.

Chega.

Metam os vossos votos pelo cagueiro acima, mentirosos de merda, cambada de hipócritas, corja de vigaristas dissimulados.

Pelo meu relógio, também são horas de matar.

Imagens da “única democracia do Médio Oriente”

 

São imagens que praticamente dispensam qualquer legenda. Dois jovens palestinianos, Nadim Siam Nuwara e Muhammad Mahmoud Odeh Abu al-Thahir, com 17 e 16 anos respectivamente, são executados a sangue frio pelas forças israelitas nas imediações de uma prisão militar, onde se insurgiam contra as detenções arbitrárias levadas a cabo pelas autoridades israelitas, sob a eufemística designação de “prisões administrativas”. Estas cenas ocorreram durante os protestos evocativos da Nakba, a data que marca a expulsão dos palestinianos das terras ocupadas por Israel em 1948. 

 

Fonte: Electronic Intifada

 

EDIT 23/05/2014: Câmaras da insuspeita CNN capturaram o exacto momento em que o soldado israelita alveja os adolescentes palestinianos, demonstrando que, como já é de hábito, as autoridades israelitas têm vindo a mentir com os dentes todos, nas suas declarações sobre estes incidentes.

Fonte: Electronic Intifada

Carta Aberta ao Primeiro-Ministro: Passos Escuta…

“Passos escuta… estamos fartos de ver emigrar os nossos familiares, os nossos direitos, os nossos sonhos, e vamos continuar a lutar para que rapidamente entendas que o melhor para todos é que sejas tu, o teu governo, os teus banqueiros, os próximos a partir. Ninguém deixará cair uma lágrima na hora de tu zarpares. Essa viagem é hoje a condição para as pessoas voltarem a ter esperança num futuro melhor. Não bastará, é certo, mas tudo recomeçará nesse dia inicial, inteiro e limpo.”

cinco dias

Mariano i

Passos escuta… o meu nome é António Mariano, tenho 55 anos de português, 35 de estivador e 18 de sindicalista. Fomos eleitos – no meu caso em eleições directas, no teu, em indirectas, foste escolhido por uma maioria dos deputados eleitos para a AR – para representarmos um determinado universo.

Represento quase 400 estivadores que escolheram a minha equipa para estar à frente da nossa centenária associação de classe, constituída em 1896, para representar os nossos interesses individuais e colectivos bem como o daqueles que no futuro irão desempenhar esta profissão de apaixonante risco. Tu representas os mais de 10 milhões de cidadãos, onde os estivadores se incluem. Tudo o resto é um mar de conflitos que nos separam, tão diferentes são os modelos de sociedade e os valores que defendemos.

Começando pelos valores em que baseias a tua formação, realço a Mentira que encarnas, que tão bem cultivas, que…

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Carta a Fátima Pinheiro

Querida Fátima,

Há já bastante tempo que deixei de desperdiçar o meu tempo a ler a trampa que o Expresso insiste em nos ofertar. Da direita à esquerda, do Henrique Raposo ao Daniel Oliveira, aquilo simplesmente não tem ponta por onde se lhe pegue. Até encarar a tua “Carta a Miguel Relvas”.

Perdoar-me-ás a frontalidade, mas como é possível um jornal com a reputação do Expresso publicar uma verborreia desta dimensão? Não me refiro tanto ao seu conteúdo, apesar de se resumir a uma defesa do indefensável, tão desafortunada como confusa; uma honesta apologia à desonestidade na política. Refiro-me antes à própria forma: uma acumulação de sucessivas construções frásicas pseudo-eloquentes sem norte nem sentido; uma divagação retórica sem qualquer lógica ou estrutura interna discernível. Dir-me-ás que é apenas um espaço de opinião. Tudo bem, mas não me posso deixar de questionar sobre quais serão os critérios formais do Expresso para a publicação de textos desta índole.

Enfim, imergidos como estamos nesta crise que parece não ter desfecho à vista, o Expresso deixou de contemplar o jornalismo de qualidade para passar a priorizar conteúdos de teor humorístico. Se o teu objectivo era desanuviar as nossas mentes, acossadas pelas agruras desta avassaladora intempérie económico-social, e motivar umas gargalhadas no universo de leitores que ainda têm paciência para folhear o Expresso, o teu escopo foi mais do que atingido. Parabéns.

Com os mais cordiais cumprimentos,

Tiago

LUTA DOS ESTIVADORES – Chegou a hora de voltarmos a vencer!

Ah e tal, isso da luta não resolve nada…

L´obéissance est morte

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Vitória a toda a linha fechada em acordo negociado pela direcção e aprovado em plenário de base por unanimidade. Reintegração dos 47 trabalhadores despedidos, negociação do contrato colectivo de trabalho, anulação dos processos disciplinares e judiciais sobre trabalhadores e sindicato, são as três grandes conquistas de uma luta exemplar, que teve na solidariedade, nacional e internacional, sindical e social, os seus ingredientes secretos. A combatividade e a conflituosidade sindical aliada a um forte movimento de solidariedade fazem toda a diferença na hora de resistir. Que o exemplo desta luta e da receita que a levou ao sucesso se multiplique por outros portos de Portugal e da Europa e, claro, por outros sectores do trabalho. Estamos demasiados habituados a perder para nos darmos a luxo de não aprender com aquela que é uma das maiores vitórias do movimento operário dos últimos anos…

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